sábado, 26 de novembro de 2011

Os "bichos"

Em determinadas alturas da vida todos nós afloramos a quantificar as nossas amizades o que acontece normalmente, quando alguém que pensamos nutrir por nós exacerbada e incondicional amizade, demonstra por actos ou palavras, o contrário da dita.

Na origem de uma conversa acerada com alguém, chegado a “val de lençóis” dei comigo noite adentro a quantificar amizades para chegar á conclusão que para conhecermos os amigos, é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça no decorrer dessa relação. As palavras não são minhas mas, no sucesso verificamos a quantidade de amizades, na desgraça a qualidade das mesmas. Não poderia estar mais de acordo.

Verifico que esta palavra, amizade, se vulgarizou de tal forma que hoje é empregue no segundo seguinte ao conhecimento interpessoal com seja com quem for. Amizade significa estima, dedicação, afecto, ternura, afeição, cumplicidade, entre muitos outros sinónimos que a caracterizam e não meramente um conhecimento.

Mas há excepções e por vezes conhece-se pessoas com quem parece termos tido já uma relação de amizade extrema. Talvez noutro estádio, talvez noutros tempos, talvez noutra era, quiçá, mas parece-nos que os conhecemos há séculos e não raras vezes, esses conhecimentos geralmente transformam-se em amizades, deitando por terra a teoria temporal.

Por regra, as amizades constroem-se com o tempo, com os actos, com correspondência, especialmente com o dar-se e receber-se. Sim porque tudo na vida é dar e receber e os ditados populares sugerem que “cá se fazem cá se pagam”, que “semeando tempestades, colhemos vento”, que “mais vale tarde que nunca”, que “a falta de amigo há-de se conhecer mas não aborrecer”, mas também que “amigo disfarçado, inimigo dobrado” e que “amigo verdadeiro vale mais que dinheiro”.

Existem também as belas surpresas e digo-o, no bom sentido. Quando menos se espera e de quem menos se espera, vem uma lufada de ar fresco. Refiro-me aqueles que pouco ou quase nada eram considerados de amigos, que de amigos em pouco ou nada eram estimados, sendo talvez mais considerado do foro do conhecido, talvez pelo longo tempo decorrente do próprio conhecido e que de um momento ao outro “desabrocha”, descobre-se, demonstrando-se uma revelação e verdadeira admiração no campo da amizade.

Esse “bicho” peçonhento e hediondo que alguns são e que por vezes conseguem ser bem mais cruéis que o mais cruel dos animais, levam-me por vezes a reconsiderar algumas filosofias nos modos de ser e de estar na vida, não só pela forma como o dizem o que dizem, mas muitas para pela forma como agem.

São esses mesmos “bichos” que me obrigam a comigo mesmo vociferar e praguejar, e no meu íntimo dizer-me que tenho de mudar, que não posso ser como sou, que não me posso dar como dou, a deixar de ser do tipo “tirando a camisa para dar ao amigo”.

Por outro lado, aqueles seres que até então eram pouco considerados e que se vão revelando, são eles que me levam ainda a acreditar na condição humana e que nem tudo poderá estar perdido, que podemos ainda vir um dia a ser um bom exemplar da criação que Deus ao mundo deitou.

É um absurdo que os polos se consigam inverter?
A negação do milénio é verdadeira ou pura ficção?
Que vai acontecer a 21 de Dezembro de 2012?

Nada disso me preocupa neste momento.
Também não sei bem o que se passa, mas ando preocupado com a loucura que vou vendo e lendo, pela demência que nos rodeia, pela demência que se vai instaurando.

Não sei, mas no meu íntimo e do que vejo, sei que anda meio mundo meio doido ou completo e que talvez alguma coisa esteja mesmo para acontecer. Por isso ando apreensivo, ou será que tem tudo a ver com os…”bichos”... que vou encontrando?

Já agora, a fotografia de topo é de uma grande amiga minha e ela provou-me já por várias vezes que, nem sempre um homem é um homem, nem sempre um bicho é um bicho.

sábado, 12 de novembro de 2011

Palíndromo


Fruto de algum trabalho que tem vindo, sim porque emprego sempre tive e uma coisa não tem nada a ver com a outra, tenho andado afastado dos meus habituais “bate-orelhas” no meu blogue e no dos outros. Este afastamento tem originado alternâncias entre terras “del Rey Juan Carlos” e passos curtos em terras de Pedro Coelho.

Vejo que também agora os nossos vizinhos andam algo preocupados com aquela senhora que tem assombrado o mundo e o nosso quadradinho á beira-mar plantado, em particular. Contudo, a abordagem feita pelos nossos “hermanos” continua a ser bastante diferente da nossa quando o tema é “problema” e essa senhora que quase todos chamamos de crise. Sim…, ela existe, não será para todos…, mas existe e sabemos que ficará por cá alguns tempos.

No meu mundo do trabalho e no nosso País, quando alguém pergunta “então como vai isso?”, a resposta normalmente é “está lixado pá, não sei o que vai ser de nós”, ou então “vamos ter de emigrar que isto aqui já deu favas” ou mais incisivamente “isto está cada vez pior, ninguém vai dar a volta a esta porcaria”. São estas as respostas que normalmente são recebidas.

Se a pergunta é feita do lado de lá da fronteira, 70% das vezes a resposta dos inquiridos é “luchando”, que é tão só o equivalente ao nosso “lutando”. Por várias vezes tenho feito essa pergunta, abordando o tema de várias formas e é a resposta de recebo com mais frequência, “luchando”.

“Luchando” com mais ou menos ânimo ou mais ou menos desânimo, com mais ou menos convicção ou mais ou menos crença, mas dentro de uma filosofia que é a da luta para cumprir objectivo e tentar conseguir ultrapassar, problemas e as vicissitudes existentes.

Este nosso palíndromo nacional perante os problemas tem de mudar e mudar, muito rapidamente. Temos de deixar de pensar como uns coitadinhos e estarmos sempre á espera que alguém nos venha dar um paliativo que minimize, nem que seja temporariamente, o mal-estar em que nos encontramos. Deixemos de uma vez por todas de ser, choramingas.

Se recuarmos no tempo, não somos muito diferentes dos nossos “hermanos” no que diz respeito á criação do tecido empresarial. As empresas Espanholas e até mesmo a maioria dos grupos empresariais privados nasceram de empresas familiares, á semelhança do que por cá se passou. Foram os descendentes desses criadores que mais tarde pela divisão, criaram novas empresas e assim sucessivamente, concebendo a indústria forte que hoje existe. Também aqui, a diferença, é uma vez mais a forma como encaramos as coisas.

Nunca o deixaria, mas não sou nem nunca fui tomado e analisado com complacência por eles e exigem-me a mim, que sou um “outsider”, o mesmo rigor que aos da casa. Porquê? Porque sabem que não são melhores que nós e não raras vezes, até somos bem melhor que eles. Garanto-vos que não nos tomam como um dado adquirido e admiram a nossa capacidade de trabalho e rigor organizacional.

Separa-nos sobriamente, a filosofia que é adoptada na vida e no dia-a-dia seja no trabalho ou em sociedade. Separa-nos a forma como abordamos e a forma como agimos. Separa-nos o trato…, sim o trato…, deixemo-nos de histórias pois somos bastante mais manga-de-alpaca que eles. Nos negócios, 10 minutos depois um Espanhol trata-nos por tu, enquanto por cá demora 10 anos até que alguém se decida a esquecer o “Dr”.
Nessa matéria, o flamengo e o fado estarão sempre em lados opostos.

Tampouco quero ser Espanhol e tenho um especial exacerbado orgulho nacional, mas aparte de muitas semelhanças e outras tantas diferenças, retemos em comum com os nossos “hermanos” uma opinião idêntica e generalizada. Também eles pensam como nós quando se fala sobre os políticos. E sobre este tema mais não digo, não me querendo alongar em demais…chamemos-lhes interjeições.

A mensagem que queria passar, é que temos de deixar de pensar que somos uns coitaditos e acabar com as choramingues á boa maneira dum Caliméro.

Vamos acabar com esse palíndromo nacional.